Para curar a ressaca

Três dias se passaram e a tristeza continua instalada por aqui. Meu leite quase secou. A Pi procura a Farofa pela casa, chama, chama, chama e faz “cadê” com as mãozinhas. Eu ainda a espero, inconscientemente, todos os dias no café da manhã.

Tentei seguir em frente e acolher um filhotico preto, paraplégico, mas não deu certo, ele não resistiu.

Acho que essa, definitivamente, não é minha semana.

Ainda bem que tenho uma equipe-particular-de-apoio-para-coração-esmigalhado a postos, sempre ao meu lado, pronta para ajudar a recolher os caquinhos e enxugar as lágrimas, que insistem em cair.

Obrigada também a todos que, de alguma forma, deram um jeito para que seu carinho chegasse até aqui, nesses dias tão cinzas. Quem tem amigos, tem mesmo tudo.

Então é isso.

Os cães ladram, a caravana passa, a vida segue. E lá vamos nós…

#farofa-fa

#ohana

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Para minha segunda estrelinha

Farofa foi abandonada já idosa, em um hospital veterinário para eutanásia, quando seu dono descobriu que ela tinha FIV.  Dizem que ele nem olhou para trás, sequer se despediu.

Ela veio para cá escondida, roubada da clínica e, aos poucos, fomos descobrindo que além da AIDS, era muda, tinha problemas renais, fígado e baço comprometidos, dentes podres e vários tiros de chumbinho pelo corpo.

Mas nada doía mais do que a tristeza em seu olhar.

Farofa nunca superou o abandono, nesses oito meses em que esteve aqui.  Vivia escondida, tinha medo de tudo, subiu ao meu lado no sofá pouquíssimas vezes e, mesmo assim, sem se deixar tocar.

Após meses de homeopatia, passou a me seguir, de longe, pela casa.  Foi o máximo de amor que consegui extrair dela.

Por isso, quando descobrimos um câncer avassalador em seu rim na semana passada, eu já sabia qual seria o final dessa história.

Farofa desistiu de viver.  Em nenhum momento lutou, esboçou reação ou se esforçou pela recuperação.  Mais do que a FIV, o câncer ou a doença renal crônica, o que levou minha filhota foi a tristeza.

Agora estou aqui, com o coração apertado, doendo de saudade e com uma sensação de impotência que não cabe em mim.  Sinto por ter falhado, por ver o estrago do abandono tão de perto, por ter dado meu melhor para que ela fosse feliz e ainda assim não ter sido suficiente.

Porém, pior do que tudo isso, é a dor da culpa.

Os profissionais do hospital veterinário no qual ela ficou internada esses dias falharam em inúmeros pontos, foram negligentes, incompetentes e profundamente insensíveis.  Mas nada, nada machuca mais do que terem me negado a oportunidade de me despedir da minha filhota.  Não há consolo, não há desculpa, nem explicação.

Farofa morreu sozinha, em uma gaiola, sem carinho, nem conforto, justamente como tentei evitar que acontecesse há exatos oito meses.

Como me perdoar por isso?

Como esquecer?

Como acalmar o coração?

Brilha, minha estrelinha, brilha forte.

Espero que agora vc possa ser feliz.

Te amo para sempre.

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Não desiste, filha. Por favor.

Quando a gente perde um filho, fica pensando que ganhou uma trégua do universo, que nada de ruim vai acontecer na sua vida durante um tempo, tipo uma saída livre da prisão.

Só que, infelizmente, as coisas não funcionam assim.

Menos de um ano após perder a Jojo para um linfoma horrível, estou sendo obrigada a reviver todo o drama com a Farofa-fa. E, dessa vez, o câncer é avassalador. Cresceu em menos de um mês e derrubou a minha filhota de uma vez.  De uma semana para cá, ela já não consegue mais ficar em pé, comer, nem respirar direito, sem ajuda da câmara de oxigênio.

Farofa está internada desde sexta-feira e o prognóstico é péssimo, mas não consigo abandoná-la, nem deixa-la descansar.  Pelo menos não ainda.

Não consigo parar de lutar pela minha filhota.  Minha cabeça sabe o que deve fazer, porém meu coração não consegue entender que está perdendo a batalha mais uma vez.  É muito injusto. Especialmente depois de encontrar dois novos tiros de chumbinho alojados em seu tórax, no exame de hoje.  Quanto será que ela sofreu até chegar aqui?

Parece um contrassenso salvá-la da eutanásia e fazer o mesmo, oito meses depois.  Parece que não esgotei todas as possibilidades.  Parece que ainda não fiz pela Farofa tudo que ela precisa.

Farofa merece mais dias de sonecas no sofá, de solzinho na varanda e sachês antes de dormir.  Farofa merece ser tratada com respeito, com atenção, com todo o cuidado que um bichinho demanda.  Farofa merece ser feliz por mais alguns meses.

Por isso não posso jogar a toalha.  Não ainda.  Não sem tentar tudo.

O tempo passa, os problemas mudam, a vida segue.  E eu mais uma vez estou aqui, com um buraco no peito, o coração partido, esperando um milagre acontecer.

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105 dias

Foram pouco mais de cem dias escondida pelos cantos, saindo só de vez em quando, vencida pela curiosidade ou pelos petiscos.

Cem dias entre um flagra e outro no sofá, um “bom dia” na cozinha ou um passeio rápido pela sala.

Cem dias tentando chegar perto dela, sempre em vão.

Porém hoje foi diferente.

Hoje a Farofa me olhou nos olhos, subiu no sofá e se deitou ao meu lado pela primeira vez.

Ainda sem contato físico, com pavor do toque, fugindo ao menor sinal de movimento.  Mas ela se esforçou e ficou lá, firme, nitidamente contrariando todos os seus instintos de defesa, que a impediam de se aproximar de mim.

Hoje a Farofa escolheu confiar.  Escolheu tentar, escolheu relaxar, escolheu ser feliz.

Não sei o que mudou, o que aconteceu durante o dia, o que a fez ter coragem, nem o que desencadeou o processo.

O que eu sei é que cada minuto de espera desses cento e cinco dias acabaram de valer a pena.  Cento e cinco dias controlando os impulsos, sem forçar a aproximação, sem encostar, sem invadir o espaço, sem ultrapassar os limites dela.

Está aí a prova de que não existe caso perdido.  Amor, paciência e respeito operam verdadeiros milagres.  Basta abrir o coração e acreditar ♥

“Tudo vale a pena, se a alma não é pequena” (Fernando Pessoa).

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O outro lado do abandono

Eu pensei que a Farofa tivesse sido vítima de abandono há pouco mais de dois meses, em uma gaiola, para eutanásia.

O que eu não imaginava é que ela tivesse sido vítima de outro tipo de abandono, tão cruel quanto: o gradativo, diário, habitual.

Hoje a Farofa fez um procedimento cirúrgico e, ao contrário do que eu pensava, o problema vai muito além da FIV, dos rins, do baço, do fígado ou do medo generalizado.

Farofa sofreu por muitos e muitos anos com a indiferença.

Como já foi dito algumas vezes aqui, ela estava judiada, tinha os dentes podres e um tiro de chumbinho no corpo, situação incompatível com uma gata que tinha dono.

O mais triste é pensar que esse “dono” certamente colocou a cabeça no travesseiro e dormiu tranquilo essa noite, sem nem se lembrar da gatinha que deixou para trás há alguns meses.

Quem não dormiu direito e passou o dia preocupada, com o coração apertado, enquanto a Farofa era operada, fui eu.

Somos nós que recolhemos os farrapinhos, juntamos os cacos e oferecemos um recomeço para esses animais, que chegam tão sofridos. Nós que lutamos para que todos tenham uma segunda chance.

Por isso, é tão difícil aceitar ou entender o abandono, de um jeito ou de outro.  Insistimos tanto em telas e segurança não por chatice ou paranóia, mas sim porque todos os dias vemos o outro lado da história.  Quantas Farofas servindo de mira para tiro ao alvo existem espalhas por aí?

Farofa teve sorte, escapou de um destino triste, aos 45 do segundo tempo.

Porém, mais do que isso, ela escapou de uma vida inteira de negligência e omissão. Aquele fatídico 29 de agosto foi o último abandono que Farofa-fa sofreu na vida.

Agora só sombra, água fresca, barriguinha cheia e sofá para ela.

Palavra de escoteiro 🙂

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Farofa-fa

Semana passada, Farofa-fa (história aqui, aqui e aqui) completou dois meses em casa.

A boa notícia é que ela melhorou MUITO com o tratamento homeopático.  Claro que continua bastante desconfiada, não se deixa tocar, ainda tem medo de tudo e de todos.

Mas, ela já reconhece seu novo nome, nos recebe na porta (para fugir correndo em seguida), circula pela casa e deita no sofá, quando não tem ninguém por perto (os pelos esquecidos por ali sempre a denunciam).

A parte chata é que, durante esse período, descobrimos que ela (i) tem cerca de dez anos; (ii) está com os rins e fígado alterados; (iii) é muda ou tem algum problema nas cordas vocais; (iv) precisará de cirurgia para tirar seus pouquíssimos dentes, que estão podres; (v) pode ter ativado o vírus da FIV; e (vi) tem alguns carocinhos espalhados pelo corpo, provavelmente causados por tiros de chumbinho.

Gostaria de poder dizer aqui que o pior já passou, que ela superou o trauma e agora é feliz conosco, porém sei que ainda temos muito chão pela frente.

Ainda bem que não temos pressa e, pelos flagras dos últimos dias, parece que nem vamos precisar.

Farofa-fa arrematou meu coração vagabundo sem dó nem piedade, com seu olhar tristonho, seu “miadinho mudo”, sua história comovente e sua coragem de recomeçar, apesar de tudo.

Está ai a prova de que amor com amor se paga. E vale mesmo cada centavo.

#correntedobem

#perdeuplayboy

#farofa-fa

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Quem disse que amor não se ensina?

Farofa está em casa há quase um mês, contudo os progressos até agora foram mínimos.

Ela continua escondida, sempre encolhida, quase imperceptível na rotina da casa.

Quase.

Esses dias reparei que a Pi – que ainda não faz distinção entre os animais da família, provavelmente pelo “pequeno” volume – conhece a Farofa e sabe onde ela fica.  É o primeiro bicho que ela conhece pelo nome, desde a Jojo.

Todos os dias, quando chegamos da escola, eu abro a varanda e peço: “chama a Farofa-fa?”. Aí a Pi vai até o sofá, abaixa e chama a Farofa com a mãozinha por vários minutos, até desistir.

Porém, ontem o final do roteiro foi diferente.  Farofa não ficou apática, no seu mundinho triste.  Ela se levantou e veio.  Ainda distante, com medo, sem contato, nem interação.  Mas, ficou lá, firme, olhando para nós duas, da porta.

Não sei quanto (ou se) ela ainda vai melhorar, se um dia se deitará ao nosso lado ou se conseguiremos passar a mão nela.  O que eu sei é que não temos a menor pressa.  Para quem tem um gato que nunca pegou no colo há quatro anos, um mês não é nada.

Enquanto isso, vou ensinando à minha filha os benefícios do amor incondicional e a importância de se amar sem esperar nada em troca.  Quem sabe no meio do caminho, a Farofa não aprende também e começa a confiar na gente?

#ohana

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Pequenos progressos

Farofa é uma gata triste.  Triste mesmo, como poucas vezes vi.  Não é arisca, é apenas assustada e tem um vazio no olhar de partir o coração.

Parece que entende tudo que aconteceu nos últimos dias e sabe do que escapou.  Ou pior, não entendeu nada, sente saudades da antiga família e pensa que a vilã sou eu.  Como explicar para alguém que ama incondicionalmente, que foi deixada para trás?

Apesar de ter experiência com animais traumatizados, o comportamento da Farofa estava me tirando o sono. Dias encolhida, apática, na mesma posição, sem comer, beber água, nem se mexer. Cada vez que alguém entra no quarto, ela treme e fica ofegante, respirando com a boca aberta e a linguinha para fora (isso é um sinal perigoso, gatos podem até ter uma parada respiratória de puro stress).  Estava com muito medo dela ficar doente ou de ativar o vírus da AIDS.

Mas, quando desci hoje cedo, me deparei com a seguinte cena: Farofa na janela, olhando um passarinho e lambendo a patinha.

Gata que se lambe, quer viver. Gata que tem curiosidade para ver o mundo também.

Claro que o flagra durou apenas 10 segundos, assim que ela me viu, voltou correndo para o esconderijo. No entanto, foi suficiente para renovar minha esperança de que tudo ficará bem.

A apatia e o olhar triste estão com os dias contados, podem apostar.

Farofa-fa terá o seu “e viveu feliz para sempre”, tenho certeza 🙂

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Recomeço

Aí, quando vc pensa que o mundo ainda tem jeito, recebe um pedido de ajuda para uma gatinha idosa, que foi abandonada para EUTANÁSIA, só porque o dono descobriu que ela tem o vírus da FIV (AIDS felina).

Nem vou entrar no mérito do vínculo afetivo, de que animais não podem ser descartados como objetos quebrados, que essa postura é cruel, egoísta e, acima de tudo, desnecessária. Isso tudo estamos cansados de saber.

O que me pegou dessa vez foi justamente a falta de apego.  Como alguém pode conviver com um bichinho por anos a fio e simplesmente condená-lo à morte, sem compaixão, sem piedade, sem despedida, nem nenhum remorso?

Aqui aconteceu exatamente o oposto, lutamos com a Jo até o último segundo, agradecendo cada dia a mais que ganhávamos com o nosso milagrinho. Não consigo entender o contrário. Quem ESCOLHE matar seu bichinho, ao invés de ajudá-lo?

A conclusão da história é bem evidente para aqueles que me conhecem: Farofa está vindo para cá, salva, protegida, mas assustada, sem entender nada do que está acontecendo.

Ainda não sei se será parte da família ou se ficará apenas de passagem, enquanto espera uma nova chance.

O que eu sei é que – apesar de não ser o melhor momento e de já sermos muitos – existe um limite do que o meu coração vagabundo consegue aguentar. E a morte de um animal saudável, por puro preconceito e abandono, certamente o ultrapassa.

Não pude salvar a Jo, mas essa eu posso tentar. Sei que é pouco perto de tantas tragédias que vemos por aí, porém é o que posso fazer hoje para deixar o mundo um pouquinho melhor para as minhas filhas.

“Sou um só, mas ainda assim sou um. Não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa. E, por não poder fazer tudo, não recusarei a fazer o pouco que posso” (Edward Everett Hale).

#farofa-fa

#correntedobem

UPDATE: Farofa-fa chegou ontem, linda (linda mesmo!) e loira, porém muito assustada. Está escondida atrás do sofá desde então. Não comeu, não usou a caixinha, não bebeu água, não se mexe. Se alguém tenta se aproximar, ela começa a tremer de medo (literalmente). Desejar a morte lenta e dolorosa para a maldita que a abandonou é muito feio?