Você foi o primeiro.
Abriu porteira, nossos corações e espaço, para tantos outros que estavam por vir.
Chegou pequenininho, uma bolota de amor, com nome de fêmea, apesar de ser macho.
De lá para cá, causou, bagunçou, destruiu, uivou, latiu, tropeçou nas próprias orelhas, latiu e destruiu mais um pouco.
Perdi as contas do número de vezes em que gritei “PAN-QUE-CA!” bem brava e fui desmontada pelo seu olhar malandro, de gato de botas.
Você era marrento, só fazia o que tinha vontade. Mandava em todo mundo, desobedecia, fingia que fazia xixi no lugar certo, só para ganhar biscoito. Mas na hora H ia lá e fazia no lugar errado, olhando para gente, como quem diz “aqui mando eu”.
Apesar disso, aceitou os humanos, felinos e caninos que vieram depois de você (quase) sem reclamar.
Dividiu sua casa, sua família, seus brinquedos, sua atenção.
De todos que já passaram por aqui, vc foi de longe o que mais perdeu. Eu me culpo todos os dias por isso, embora ache que vc nunca tenha percebido.
Dizem por aí que intenção de amor é amor também. Não sei. Espero que seja mesmo verdade e que vc tenha partido com a certeza de que foi – e ainda é – muito, muito amado.
Ontem, quando fui visitá-lo lá na internação, prometi baixinho que vc teria vida de rei de agora em diante, se lutasse para voltar.
Pena que não deu tempo.
Hoje tivemos que dar nossa última prova de amor, permitindo que vc partisse com dignidade.
Ninguém merece viver em uma gaiola, cercado por fios, com dificuldade até para respirar. Muito menos vc, sempre tão firme, tão imponente, tão líder, tão dono de tudo e de todos.
Vc nasceu para brilhar, mané.
Então, brilha, meu amor.
Brilha, causa bastante lá no céu e, se puder, volta para mim um dia.
Prometo ser melhor da próxima vez.
Obrigada por tudo, Panquecones.
Te amo para sempre.
