Dona Encrenca

Tenho muitos defeitos (elencados aqui, para facilitar a vida de vcs).  Porém, se tem uma coisa que não costumo ser é ciumenta.

Não controlo likes no facebook, nunca sei com quem o maridón almoçou, não conheço as pessoas da sua equipe. Nem quando ele contratou uma triatleta eu chiei. Aliás, nem sei se a moça era bonita ou não, mas triatleta impõe respeito, né? Uma triatleta não tem celulites, por exemplo. Nada pode ser mais irritante.

Acontece que tudo nessa vida tem limite.

E o meu chegou em uma loja de telefonia celular.

Estávamos lá – eu, o maridón e o vendedor – soterrados por aparelhos, comparando pesos, telas, tamanhos, etc.

Eis que o celular na minha mão começou a tocar e o tapa na cara veio sem aviso: a foto de uma mulher vestindo a camisa 10 do São Paulo (ousadia!) e o nome PRINCESA, piscando ali, em letras garrafais, na tela.

Ai, que cafona. Ai, que traição. Ai, que ódio!

Encarei o maridón com os olhos apertados e rosnei, entredentes, bem baixinho, porque sou phyna:

– QUEM.  É.  PRINCESA???

Maridón demorou uns três segundos para absorver o choque e responder.

Isso equivale a quatro horas e meia no tempo de uma mulher em fúria. Recusei a ligação e comecei a procurar fotos e mensagens de forma enlouquecida.

Até que voltei a ouvir o som ambiente e vi o maridón A-P-A-V-O-R-A-D-O, repetindo em um looping eterno, que deve estar durando até agora:

– É o celular do cara!!!! É o celular do cara!!!! É o celular do cara!!!!!!!!!!

Olhei, confusa, e o vendedor confirmou, pausadamente, no maior estilo “fique calma e abaixe sua arma no três”:

– É a minha namorada. Esse celular que vc está fuçando é o meu. O do seu marido é diferente.

É, minha gente…… deu ruim.

Mas quando se está no inferno, é melhor abraçar o capeta de uma vez, fica menos feio.

Eu até poderia fazer a egípcia, fingir que sou equilibrada e pedir desculpas, antes de sair correndo.

Só que aí não teríamos aprendido nenhuma lição valiosa naquele dia, não é? (Exceto que IOS é IOS, Android é Android. Na dúvida, foca na maçã #ficaadica).

Devolvi o celular, me ajeitei na cadeira, olhei séria para o maridón, ainda com os olhos apertados, o dedo em riste e falei, serena:

– AAAAAHHHHHHH BOOOOOOOMMMMMM!!! Isso é para vc ficar esperto, hein, Ramos Ramos? Estou de olho, meu bem!

Porque sou dessas.

Já que a dignidade tinha ido embora mesmo, pelo menos mandei o recado de que cabaré onde não mando, eu fecho.

Te cuida, maridón.

PS: Princesa, querida, se o seu namorado desligou o telefone na sua cara sem mais nem menos e depois veio com um papinho furado de que foi uma cliente surtada na loja, pode acreditar. Lamentavelmente, esse tipo de coisa acontece.

Notícias do mundo de cá – parte 12

O chiado passou.

Mas a secreção migrou para as vias aéreas superiores e causou uma rinossinusite.

Em resumo, Dorinha tem secreção saindo até pelos olhos (literalmente) e teremos que entrar com antibiótico.

Por que seria fácil, se pode ser – perdoem o meu francês – fodástico, não é mesmo?

A única coisa boa é que se ela aceitar bem o remédio, poderemos ter alta em breve e continuar o tratamento em casa.

Ainda estou pensando se o copo está meio cheio ou meio vazio.

A palavra de ordem hoje é resiliência.

#GOdoínha

#boletimdodia

 Dorita versão meme do Chico Buarque ❤ #inceptiondetartarugas

Amor à primeira lambida

Cidreira não aceitou nenhum dos meus outros gatos.  Do mais manso ao mais agitado.  Bateu em todos, ficou estressada, bufou. Em sete meses de convivência, não consegui encontrar uma companhia para ela.

Darth Vader estava infeliz naquele micro banheirinho, sempre tristonho, encolhido embaixo da pia.  Apesar da rua não ter lhe tratado bem, de lá ele podia ver o mundo.

Até que o inexplicável aconteceu.

Juntamos os dois para fazer a fluidoterapia e… tchanam!

Foi amor à primeira lambida.

NUNCA vi nada nem remotamente parecido em tantos anos de proteção.

Gatos demoram pelo menos dois dias para se conhecer e aceitar. Isso em um cenário beeeeeemmmm otimista. O processo normal pode levar meses.

Mas os dois deitaram juntos. E ronronaram.  Como se sempre tivesse sido assim. Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante.

Minha véia rabugenta foi conquistada pelo lado negro da força.

#maktub

#adoteumvelhinho

#umjediparachamardeseu

#véiarabugenta

Notícias do mundo de cá – parte 11

Tomei um banho bem quentinho e demorado (mil desculpas, Cantareira).

Comi bolo de café da manhã e chocolate de almoço.

Convoquei o maridón e dei férias para os meus pés aqui no sofá.

Mas nada tirou o gosto amargo do diagnóstico: “pulmão está bem cheio de novo, mãezinha. Não podemos pensar em alta ainda“.

A palavra de ordem hoje é frustração.  Ou cansaço.  Ou saudades.  Ou um manual inteiro de “aprenda a lidar com sua bebéia doente, deixando suas outras filhas em casa”.

A palavra de ordem hoje é dupla: coração partido.

#GOdoínha

#boletimdodia

Joseph Climber, sempre sorrindo

Notícias do mundo de cá – parte 10

A noite foi um pouquinho mais difícil, com muita tosse, olhos irritados e secreção.

Fiquei com medo de que fosse conjuntivite, mas a médica acredita que seja uma evolução do quadro viral, até porque a Dora ainda mama, o que fortalece sua imunidade.

Aliás, esse fato é motivo de surpresa geral. Todos os profissionais da saúde estranham que um bebê de QUATRO MESES ainda se alimente exclusivamente de leite materno. Triste pensar que essa é a exceção, não a regra em nosso país.

Enfim, devaneios a parte, seguimos sem grandes novidades.

São muitas aspirações diárias, o que nos afasta da alta. Ao mesmo tempo, o chiado melhorou. Vamos tentar diminuir as doses de corticóide e bombinha de forma gradativa, para ver como ela reage.

As palavras de ordem hoje são cansaço e saudade (promessa de não reclamar #fail).

Quero minha casa, meus bichos, minha família, minha cama.

Mas, acima de tudo, quero minha filhota bem.

Então, respiro fundo, arregaço as mangas e enxugo as lágrimas.

Segue o jogo do contente.

#GOdoínha

#boletimdodia

 “Tá tranquilo, tá favorável” #pollyanafeelings

Notícias do mundo de cá – parte 9

“- Oi, queria visitar a Dora M….
– Quarto 514.
– Nossa! Decorou? Vem tanta gente assim?
– O dia inteiro…”

Eu poderia reclamar de estar no hospital, de cansaço, da Dora doentinha de novo, de estar longe de casa, da bicharada e das meninas – em especial da Liló com febre.

Só que não tenho coragem.

Tudo que recebi nos últimos dias foram amor, carinho, ajuda, boas energias, mimos e doces (MUITOS doces divinos. Loompalândia level. Oremos!).

Além disso, estamos no quinto dia do ciclo, ou seja, o pior já passou.

Ainda dependemos de corticóide, expansores, remédios, fisioterapia e aspiração várias vezes ao dia, mas Dorinha está se recuperando bem, as coisas estão ficando mais leves, logo teremos alta.

Hoje o boletim é otimista, esperançoso, com gostinho de alívio.  Estou até acreditando que o São Paulo vai se classificar para a próxima fase da Libertadores, o que, na atual conjuntura, seria praticamente um milagre.

Fé, foco e força. Tudo vai dar certo.

Obrigada, queridos! ♥

#GOdoínha

#boletimdodia

Dora internada

Para minha irmã

Nós brigamos. Bastante. Até hoje.

Somos completamente diferentes: eu sou prática, ela enrolada (quatro voltas do cordão umbilical no pescoço foram um presságio do que estava por vir); sou desbocada, ela tímida; sou impulsiva, ela paciente; tenho insônia, ela dorme sentada; tenho frio, ela calor.

Mas poucas pessoas me conhecem como ela.

Poucas pessoas já viram meu melhor e meu pior como ela.

Poucas pessoas estão ali sempre, mesmo assim.

Nós brincamos juntas, viajamos juntas, compusemos juntas (e nenhuma música fez sucesso, um absurdo!), saímos juntas, torcemos juntas, dançamos juntas, lutamos juntas, jogamos juntas, dormimos juntas, crescemos juntas.

Ela bateu o carro e me ligou. Minha filha sufocou e eu liguei para ela.

Nem lembro como era a vida antes dela nascer. Aliás, minha primeira lembrança é justamente a sua chegada. Eu sentada na namoradeira da casa da vovó e alguém colocando aquela boneca no meu colo. Ali eu já entendi que nada mais seria igual.  Eu nunca mais seria sozinha.

Irmãos são verdadeiros presentes.

Pelo menos a minha é.

Feliz aniversário, titi bacana.

Obrigada por estar sempre ao meu lado e por cuidar das minhas meninas como se fossem suas também. Na verdade elas são, vc sabe.

Maior te amo ❤
Beijos

Poloinha

#ohana

Notícias do mundo de cá – parte 8

Habemus quarto!

Esse upgrade e o alpino na bandeja do jantar tinham sido os pontos altos do dia (além da troca do horário de verão, nos garantindo uma hora a mais no hospital. Iei!), até que pessoas queridas nos encheram de mimos e lanchinhos gostosos.

A vida melhorou bastante de ontem para hoje, não posso reclamar.

Ficar longe das meninas está sendo doído, mas as mães dos amiguinhos estão sendo MARAVILHOSAS e se desdobrando em mil para distraí-las. De bônus, minha família fica mais livre e eu ganho um colinho extra. Win-win 🙂

Dorita, por sua vez, alterna momentos de pura euforia (valeu, aerolin), com doses de tosse, choro e dificuldade respiratória.

Amanhã entraremos no pico do ciclo viral, o olho do furacão. Tudo faz parte do quadro, inclusive essa piora, infelizmente.

Paciência é a palavra de ordem.

Bom domingo para todos!

Go, Doínha! Go!

#GOdoínha

#boletimdodia

 “Aprendi a rolar, agora que estou cheia de fios“. Timing ÓTEMO! ❤

Notícias do mundo de cá – parte 7

Poderia ser o começo de uma nova saga, mas não é.

A internação de agora está intrinsecamente ligada àquela, de dois meses atrás .

Desde então, Dora passou a ser considerada um bebê chiador.

Isso significa que todo cuidado é pouco, qualquer resfriadinho poderá nos trazer de volta à UTI.

E cá estamos.

Oxigenação, saturação, pico, aerolin, corticóide e acesso voltaram a fazer parte do meu vocabulário.

Medo, cansaço e coração apertado também.

O pesadelo acaba de começar de novo.

#GOdoínha

#boletimdodia

Do limão uma limonada

Dezembro foi difícil.

Teve falecimento na família, Dorinha internada na UTI por quase quinze dias e aniversário da Cecília sem luz no buffet.

Fiquei chorando no meio do salão, com vergonha dos convidados, pensando na Dora no hospital, na carência da Pi e na frustração da Lily, quando a coisa mais linda aconteceu: os pais dos amiguinhos acenderam seus celulares, iluminaram a mesa e cantaram parabéns, mostrando que eu não estava ali sozinha (link aqui, para quem não acompanhou meu papelão via facebook).

A fase estava complicada sim, mas também cheia de amor, solidariedade, empatia e compaixão de tantas pessoas conhecidas e desconhecidas, que acabei me sentindo abraçada.

Por isso, ao invés de brigar, gritar ou processar, escolhemos transformar a experiência ruim em algo positivo, com uma nova festa no buffet, desta vez para as crianças carentes dos abrigos da região.

O resultado foi inesquecível.

Crianças eufóricas correndo pelo espaço, brincando, pedindo abraços e rindo.

Crianças com os olhos brilhando diante da mesa de guloseimas, perguntando se poderiam comer um pedacinho só. E alvoroçadas ao descobrir que poderiam comer tudo.

Crianças especiais, traumatizadas, carentes, sofridas, de todos os tipos e idades tendo um dia de folga para ser o que realmente são: CRIANÇAS.

A tarde foi mágica para elas e inspiradora para nós.

Tive o privilégio de ver a corrente do bem funcionar de pertinho, com funcionários do fórum me auxiliando no pedido de alvará, doações de lembrancinhas, além dos monitores do buffet, dos abrigos e amigos queridos trabalhando em conjunto, para que tudo fosse perfeito.

Vi um fotógrafo incrível, que mesmo sem me conhecer, doou seu tempo, seu trabalho e seu material no meio do feriado, sempre com um sorriso no rosto, para que as crianças pudessem ter uma recordação daquele dia.

Vi minhas filhas brincando mais uma vez com meu menininho platônico e cia (aqui, aqui e aqui) após tantos anos, em uma dessas reviravoltas extraordinárias que o mundo dá.

Sim, nós oferecemos amor. Porém não existem palavras para descrever o que recebemos de volta.

Obrigada de coração a todos que se solidarizaram com as minhas lágrimas, compartilharam o post, avaliaram o buffet e ajudaram a tornar essa festa possível.

Graças a vcs pudemos espalhar um pouquinho de alegria para aqueles a quem a vida deu tão pouco.

Juntos somos fortes ❤

Spread love everywhere you go. Let no one ever come to you without leaving happier” (Madre Teresa de Calcutá).

#gratidão

#correntedobem

ET: Infelizmente, não posso compartilhar as fotos LINDAS que o fotógrafo tirou, em respeito à privacidade dos pequenos, mas faço questão de indicar seu trabalho aqui: www.ricardojayme.com. Obrigada, Ricardo! 🙂

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