Cada vez que um temporário chega em casa, tenho uma longa conversa com ele, explico que os tempos de sofrimento, fome, medo e frio ficaram para trás, que ele agora será feliz e sempre terá para onde voltar se tudo der errado de novo (espero que não todos juntos, para evitar o divórcio a fadiga, claro).
Fazer lar temporário não é tarefa fácil, já falhei INÚMERAS vezes, btw. São várias semanas de cuidados intensivos, carinho, comida boa, remédios, vacinas, vermífugo e muito amor, até que eles possam seguir seu caminho.
Para quem tem problemas com o desapego, como eu, esse processo é bastante dolorido, uma verdadeira tortura. Precisa ter muita maturidade para reconhecer que deixá-los partir é a grande prova de amor que poderia lhes dar. E eu não sou lá a rainha da maturidade, prefiro deixar todos embaixo das minhas asas, como legítima descendente de italianos que sou.
Nos últimos cinco meses, dez gatos passaram por aqui e percebi que sempre conto o começo das histórias no blog, mas nunca seu desfecho.
Fora a Penélope, que acabou de chegar e a Nina, que virou estrelinha, deixando um rombo enorme no meu peito e na minha conta bancária, todas as demais missões foram lindamente cumpridas, com finais felizes de dar inveja ao último capítulo da novela das seis.
A família GOT sobreviveu, cresceu forte e saudável, graças à dedicação dos tios FernandoS e da tia Denise, que assumiram parte da turma e me deixaram cuidando apenas da Shae, minha filhota amada.
Todos foram adotados por famílias de comercial de margarina, compensando com juros e correção monetária nossos esforços e noites em claro:
O Pierre, também conhecido como o gato mais porcalhudo da Porcalhulândia, ficou uns quinze dias aqui, antes de ir para a casa da tia Dê, voluntária que o resgatou.
Nesse meio tempo, sujou, ronronou, sujou, ronronou, sujou, ronronou em um looping eterno, demarcando território em formas nunca dantes vistas na história desse país. Mas o bicho é tão lindo, fofo e apaixonante, que vc quase agradece pelo privilégio de ser a dona do lavabo que ele emporcalha.
Depois de um longo e tenebroso inverno, descobrimos que ele estava com infecção urinária, a causadora dessa imundice toda. Pierre fez o tratamento, foi castrado e agora finalmente poderá procurar uma família para chamar de sua, sem mais desasseios.
Por fim, a Dona Khaleesi, que agora se chama Cindy, ganhou três vezes seguidas na loteria e irá para a casa nova amanhã, em uma adoção dos sonhos, depois de morar um mês no meu lavabo e roubar para sempre o meu coração.
Foram trinta dias de amor por uma das gatas mais lindas, doces e meigas que já passou por aqui. Um mês de conversinhas, miadicos, colo, carinhos no baligo rosa e muito ronron.
Amanhã será o dia mais doído de toda essa jornada de lar temporário, aquele que sempre prefiro adiar. Dia da despedida, de deixá-la partir e de encher a Cantareira, com o rio de lágrimas que irei derramar (de nada, São Paulo).
Amanhã minha princesa guerreira encerrará seu ciclo na Morada dos Ramos e abrirá espaço para tantos outros bichinhos carentes espalhados por aí, precisando apenas de uma chance.
Porém, levará consigo um pedacinho de mim e a certeza de que valeu a pena fazer girar mais uma vez a corrente do bem.
Seja feliz, minha gata borralheira.
Sempre terei abóboras guardadas para vc no meu jardim.
#correntedobem
#outrasninasvirão
Cindy (prefiro Khaleesi) teve muita sorte de ter você. E você teve muita sorte de ter a Cindy!!!
Também prefiro Khaleesi, mas Cindy caiu como uma luva. De gata borralheira à Cinderela em pouco mais de um mês! ❤
Ela está tão feliz na casa nova, que nem lembra que eu existo! Rolou até um ciuminho! Hahahahahaha!
Parabéns Paulinha !!! Você sempre com um coração enorme!!!!
Obrigada, Dani! Mas tudo que eu faço é com ajuda de vcs, né? ❤