Coração vagabundo – parte 3

Essa semana teve festa no abrigo perto de casa e conheci uma família nova, que acabou de chegar.

São muitos irmãos, com idades variadas, todos analfabetos, vítimas de abuso, alcoolismo e uma série de tragédias, que não vêm ao caso. Basta dizer que foram tratados como bichinhos a vida inteira e agora têm medo até de tomar banho de chuveiro.

Para ajudar no processo de acolhimento, os responsáveis pelo abrigo perguntaram quais passeios os irmãos gostariam de fazer.

Choveram respostas típicas de criança, como “cinema”, “teatro”, “shopping” e “parque”. Até que um deles, do alto dos seus dez anos, soltou:

– Eu quero ir para a ESCOLA, tia.

E aí meu coração se esmigalhou. Fiquei me sentindo realmente estúpida por reclamar de bobagens, como acordar várias vezes durante a noite, a tachinha no pé ou o carro quebrado.

Fiquei pensando em tudo o que esse menino já sofreu e em tudo que ainda enfrentará pelo caminho, do bullying na escola à superação de traumas – que nem sei se será possível.

Pensei na injustiça, na fragilidade, na banalização e em tantas histórias como essa, se repetindo todos os dias, sem que sequer tenhamos conhecimento.

Tive vontade de voltar correndo para debaixo das cobertas e abraçar minhas meninas como se não houvesse amanhã.

Mas isso não ajudaria ninguém. Não faria a menor diferença no universo e, principalmente, não resolveria o problema desses irmãos.

Coração apertado, culpa, remorso, compaixão não valem nada, se ficarem apenas no papel. De nada adianta “sofrer por solidariedade”.

É preciso arregaçar as mangas, dar murro em ponta de faca, assumir responsabilidades e tentar fazer sua parte, mesmo que seja imperceptível no final das contas.

Se esse menino – que teria todos os motivos para desistir e se acomodar no conforto relativo da nova situação – decidiu que tudo que ele quer é recomeçar e ir para a ESCOLA, como EU vou desanimar?

Então, levantei, reuni forças e estou aqui, com o peito aberto, a esperança renovada, pronta para tentar mudar o mundo, nem que por mundo entenda-se apenas a vida de um desses irmãos.

Alguém comigo?

“Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todos os dias” (Saramago).

#diasdecalvin

#correntedobem

Pacotinho de açúcar

Hoje é segunda-feira. Lily mamou QUATRO vezes durante essa noite. A babá das meninas está com uma reação alérgica e não conseguirá trabalhar. A luzinha bizarra do meu carro acendeu de novo e ele terá que voltar para a concessionária. Eu pisei em uma tachinha e precisei de um alicate para arrancá-la do meu pé. Agora, além da enxaqueca e do sono avassalador, ainda estou mancando.

Nas últimas doze horas foram vários os indícios de que essa será uma loooooooonga semana. Mas nada disso importa, porque a Shae acaba de ultrapassar a incrível marca de um quilo. UM QUILO.

Diante de tantas coisas, da correria do dia a dia, dos problemas, dos trabalhos, das pendências pode parecer bobagem.  Insignificante até.

Porém, para nós duas, é a justa recompensa por tantas noites mal dormidas, tanto esforço e complicações. É a diferença entre aceitar um final trágico e não desistir.

Sei que ela é apenas uma, entre tantos que existem sofrendo por aí, dormindo no frio, com fome e medo. Sei que para cada gatinho salvo, existem milhares abandonados todos os dias. Mas para ela eu fiz a diferença.

Para nós duas, esse quilo não é apenas um quilo. Ele é doce, inspirador e tem o tamanho do maior amor do mundo.

Go, Shae! ❤

#milagrinho

#myprecious

Shae - 1 quilo

Diálogos com o maridón – parte 8

Sei que postei um episódio dos “Diálogos com o Maridón” essa semana, mas a verdade é que tenho vários pendentes e resolvi desovar alguns, já que esse é um material que sempre se renova na minha casa.

Outro dia foi aniversário do maridón e eu não sabia o que comprar de presente.

Depois de doze anos juntos e sete casados, não há criatividade que chegue, esgotei todo o meu repertório.

Pensei, pensei, pensei e desisti. Resolvi apelar direto para a fonte:

Eu: – Bo, o que vc quer de presente esse ano? Roupas? Viagem? Perfume? Eletrônicos? Uma noite inteira de sono?

Maridón: – Hummmm… tem uma coisa que eu quero faz um tempão, posso pedir?

Eu: – Pode, vai… O que é?

Maridón: – RASPA MINHAS COSTAS, por favor?

Fuén, fuén, fuén…

E eu pensando que uma pessoa xis ME telefonar, no dia do MEU casamento, para pedir carona até a cerimônia tinha sido a pior proposta indecente da minha vida. Tolinha.

Certas coisas só o casamento faz por vc.

#lógicamasculina

#donjuanfail

#quedeselegante

O fantástico mundo das frutinhas

Ontem a Cecília experimentou papinha salgada pela primeira vez e percebi que ainda não falei nada sobre esse assunto aqui no blog (shame on me!).

Depois de mais de seis meses sugando minha alma mamando exclusivamente, partimos para a introdução de alimentos, começando pelas frutinhas.

Confesso que está sendo muito mais difícil para mim do que para ela, que fez jus à fama de gordinha e AMOU todas as frutas testadas até agora.

O engraçado é que – bem diferente do que aconteceu com a Pi – dessa vez eu fiquei com um sentimento de ninho vazio, como se o fato dela comer outras coisas a afastasse um pouquinho de mim (equilibrada, só que não, eu sei).

Para piorar, a volta ao trabalho (aliada à introdução de alimentos) está fazendo meu leite diminuir bastante e eu ainda não estou preparada para me desapegar da amamentação.

Mesmo tirando com bombinha, estimulando, tomando a tal tintura de algodoeiro (que só pode ser uma piada de péssimo gosto, eca!), percebo que fico com pouquíssimo leite em algumas horas do dia. Tanto que estou dividindo as doações ao Banco de Leite , para fazer um estoque aqui em casa.

Queria muito amamentar até pelo menos um ano da Lily, mas começo a questionar se vou conseguir (e choro por falhar de novo. De leve).

É um momento tão especial, tão único, tão nosso, que fico arrependida até o último fio de cabelo por todas as vezes em que fiquei mexendo no celular ou vendo TV, ao invés de aproveitá-lo.

Mas, enfim, maluquices e desabafos a parte, vamos ao que interessa: Lily e as frutinhas, esse caso de amor.

Para facilitar o processo de transição, optamos por começar pela banana, que é unanimidade nacional. No começo ela achou esquisito, se surpreendeu com o sabor. Porém, logo em seguida, adorou e pediu mais.

Tem sido assim com todas as frutas, ela está aproveitando muito a experiência, em especial com a pera, que é a atual campeã das campeãs, sucesso absoluto, imbatível.

Apesar dos pesares, essa fase é muito gostosa. É uma delícia acompanhar de perto o encantamento dela com esse mundo todo novo. E ainda ser premiada com um sorriso incrível no final, querem ver?

Como não se apaixonar mais e mais todos os dias?

Filhos famosos – parte 2

Ontem demos uma entrevista para a equipe da Record, em uma matéria sobre a relação entre crianças e animais.

O tema é bastante válido, ainda mais considerando o número cada vez maior de bichinhos abandonados tão logo as mamães se descobrem grávidas ou os bebês nascem.

Por isso, fiz questão de mostrar a bagunça gostosa que é a minha casa e como somos todos MUITO felizes e saudáveis juntos.

Infelizmente, tanto a manchete quanto a abordagem inicial foram um pouco diferentes do que eu esperava, mas o conteúdo da reportagem deixou bem claro o recado que tentei passar: animais e crianças juntos são TUDO de bom, podem acreditar.

Ou alguém ainda duvida?

ET: Quem quiser conferir a matéria, é só clicar aqui (aparecemos a partir dos 3:03 minutos).

Pi e Guigo

 

Diálogos com o maridón – parte 7

Estava feliz e contente em uma festa, quando uma pessoa xis me abordou e disse que eu morreria em 2017. Assim, do nada, sem introdução, nem preparação psicológica (certeza que esse tipo de coisa só acontece comigo. CER-TE-ZA).

Daí que hoje cedo eu e o maridón estávamos combinando nossos roteiros de viagem para os próximos anos, já que sonhar não paga imposto, e lembramos da nossa promessa de repetir a lua de mel, quando fizéssemos dez anos de casados:

Maridón: – Que tal o calendário: 2015 Itália, 2016 Holanda, 2017 França?

Eu: – 2017 França? Será que eu vou morrer em Paris? Imagina que luxo??

Maridón: Hahaha! Não sendo no avião, ESTÁ ÓTIMO!

ESTÁ ÓTIMO, minha gente, ESTÁ ÓTIMO.

Ou seja, não morrendo COM ELE no avião, está bonito, está beleza, ES-TÁ Ó-TI-MO.

Ficar viúvo, tranquilo, só não vale cair o avião e morrer junto também.

Acho que, só de raiva, vou morrer mesmo e deixar dezessete filhos para ele criar sozinho. Oh, wait…

#fuénfuénfuén

#putafaltadesacanagemfeelings

#lógicamasculina

#donjuanfail

Update: Para ninguém dizer que estou mentindo ou exagerando, está aqui a prova do crime:

Bo está ótimo

Linha de produção

Filha modelo 2012 (a zero dias sem acidentes, diga-se de passagem):

Pi linda

Filha modelo 2013:

Lily linda

Filhas modelo 2014:

Memé e Shae

Tudo nessa vida é uma questão de perspectiva, né?

Olhando assim, parece até uma boa notícia.

Poderia ser beeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeem pior, vai?

#yeahshe’smine

#myprecious

#milagrinho

#seéparaobemdetodosefelicidadegeraldanação…

#goshae

♥ ♥ ♥

Quem acha que a semana promete, levanta a mão! o/

Segunda-feira, oito da manhã.  Nas últimas 48 horas:

– maridón foi para o PS, com suspeita de pneumonia;

– família inteira ficou podre, incluindo essa que vos fala (exceto a Pi. Vacina contra a gripe, eu te amo!);

– Pistache fez xixi no travesseiro do maridón, em protesto contra a minha ausência;

– fomos visitar uns amigos, esquecemos de repor as fraldas nas malas das meninas e tivemos que fazer um pit stop na farmácia no meio do jantar (pelo menos dessa vez não foram envolvidas fraldas de piscina na trapalhada);

– deixamos a Pi com a Titi para aliviar o sábado e a Lily decidiu se rebelar por duas, chorando por HORAS a fio;

– Shae fez cocô com sangue;

– Lily comeu meio rolo de papel higiênico;

– saímos para jantar com uns primos queridos, a Lily continuou chorando (em menor escala, amém!), a Pi virou o Godzila, incontrolável, gritando e esperneando em alto e bom som no meio do restaurante, com direito a olhares julgadores das mesas vizinhas, em um escândalo nunca dantes visto na história desse país (post sobre aprender a respeitar os limites das crianças sendo aguardado para qualquer instante);

– Pistache fez xixi no travesseiro reserva do maridón, em protesto contra a Copa;

– saímos para assistir ao jogo e esquecemos as malas das meninas no outro carro, ou seja, maridón teve que voltar para buscá-las e perdeu o primeiro tempo da final da Copa;

– perdemos uma maçã na geladeira, a qual foi encontrada assim que o maridón chegou da banca de frutas, no meio da noite (não somos Adão e Eva, apenas estamos na fase de introdução de alimentos da Lily);

– maridón bateu o carro. DUAS VEZES;

– meu carro novinho quebrou, a assistência técnica não resolveu, tive que chamar o guincho; e

– Pistache fez xixi no último travesseiro do maridón, em protesto contra _______ (preencha o espaço como quiser, não tenho mais justificativas).

É isso. Está bacana. Está leve. Está fácil.

“Mas, Paula, se está tão difícil, a que horas vc escreve?”.

Agora. Esperando o guincho. No celular. Entre uma tosse escabrosa e outra. Com a Lily chorando no meu colo. E agradecendo por eu não ser o maridón.  Sempre pode piorar.

#chutaqueémacumba

#segundãovelhodeguerra

#ohmy