My precious

Ela foi a primeira da ninhada que peguei da caixa de papelão. Fraquinha, muito menor do que os irmãos, não conseguia nem ficar em pé.

Eram cento e cinquenta gramas de ossos e pele. Não tinha massa corpórea, não tinha forças, não sabia comer.

Precisei aprender na marra a entubar uma micro-gata, injetar leitinho, via sonda, de três em três horas por dias a fio. E como ela não conseguia manter a temperatura do corpo, passou a morar dentro da minha blusa, para ficar aquecida.

Ela foi o bebê mamadeira mais difícil que já tive em mãos, um verdadeiro milagrinho. Passou muitos dias sem enxergar, desnorteada, com o olfato comprometido. Mas nós duas lutamos juntas, para que ela pudesse ter uma chance. 

Quando o perigo finalmente passou, eu a ensinei a ser independente, a comer, beber água, usar a caixinha de areia e brincar.

Agora, com quase dois meses, ela já está linda, forte, saudável. Aprendeu a ser gata, não precisa mais de mim. 

O problema é que eu ainda preciso dela. E nenhum dos infinitos argumentos, apesar de muito coerentes e racionais, convence meu coração a mandá-la para longe.

Penso, repenso, trepenso, mas razão e emoção não conseguem se conciliar de jeito nenhum.

Então, sigo aqui, entre dias de Smeágol e dias de Gollum. Respiro fundo, fecho os olhos, faço um cafuné nos pelinhos arrepiados dela, choro, choro, choro e… adio a decisão, mais uma vez.

#myprecious

#milagrinho

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Direto do túnel do tempo – parte 3

Remexendo a gaveta do banheiro, encontrei um post it antigo, que o maridón deixou no espelho quando fizemos um ano e meio de casados.

Eu poderia ter sido romântica e pensado nas tantas coisas que aconteceram de lá para cá, nas mudanças, no amadurecimento, no amor que só cresce a cada dia que passa.

Eu poderia ter feito um outro post it e deixado no banheiro dele, comemorando os onze anos e dez meses juntos, completados hoje.

Eu poderia ter mandado um e-mail fofo com a foto, dividindo a lembrança.

Eu poderia até estar matando, roubando ou enganando.

Mas, a verdade é que o primeiro pensamento que me veio foi:

“ACHO que precisaríamos de alguns posts its extras para ilustrar nossa família agora”.

#fuénfuénfuén

#romantismofail

#deveseramor

#ohana

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Feliz sexto mês, Cecília! :)

Seis meses equivalem a um semestre na faculdade.

É o período médio de um intercâmbio. É o tempo padrão para um funcionário de alto escalão ser avaliado. É a duração do seguro desemprego.

Seis meses é o tempo em que o filhote deixa de ser bebê, perde os dentes de leite e entra na adolescência.

É o período em que o Schumacher ficou em coma. É a duração da temporada de um seriado, antes de começarem a reprisar os episódios antigos.

É o tempo que a Terra leva para ir de uma extremidade a outra de sua órbita. É a metade exata de um ano.

Porém, mais importante do que tudo isso, seis meses é o tempo que vc tem de vida, filha.

E eu só tenho a agradecer.

Obrigada, por virar meu mundo de ponta-cabeça e fazer com que eu me apaixone mais e mais todos os dias. Não existe ratinha no universo mais amada do que vc.

Te amo para sempre.

Mamãe

“Mas eu te chamava em silêncio…”

#lilyfuracão

#umsemestrederatinha

#isntshelovely?

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Coleção outono-inverno :)

Não vou dizer que a Shae está ótima e que estamos sapateando na cara da sociedade, porque já aprendi a lição.

Apenas vim mostrar, de forma bem despretensiosa, que ela está arrasando na coleção outono-inverno do berçário lá de casa 😉

E também contar que ela foi contratada como estagiária de direito e está causando me ajudando horrores no escritório, apesar de ter sido pega dormindo algumas vezes durante o expediente. Geração Y, fazer o que, né?

Go, Shae!

#milagrinho

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Minha gigaaaaaaaaaaaaaaante! :)

Shae continua atrasadinha, não se desenvolveu rápido como os irmãos, que já podem comer ração seca.

Ela não tem os dentes que deveria, não come sozinha e tem os sentidos (visão e olfato) prejudicados, mas ainda não dá para saber a extensão do problema, nem se essas sequelas serão permanentes.

A boa notícia é que ela está mais espertinha e ultrapassou a incrível barreira dos DUZENTOS GRAMAS, praticamente uma gigante.

Continua morando na minha blusa, pia cada dia mais forte e já aprendeu a mamar, não preciso mais colocar sonda, nem ficar forçando com a seringa.

Shae é uma guerreirinha e quer viver, não poderia nunca morrer em uma caixa de papelão no meio da favela, sem ter tido a chance de lutar.

Ainda bem que tudo deu certo e ela veio parar aqui. ♥

Go, Shae!

#milagrinho

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Diálogos com o maridón – parte 6

As meninas estão doentes e passamos a TERCEIRA noite seguida em claro, cada um cuidando de uma.

Sete da manhã, a Pi finalmente dormiu, maridón foi fazer inalação na Lily e eu levantei para dar mamadeira para a Shae, usando um modelito exclusivo, o moletom do colégio onde estudei há dezesseis anos (cof, cof, cof), bem macio e velhinho, porque ninguém é de ferro nesse clima polar.

Maridón me seguiu até o banheiro, parou atrás de mim no espelho e soltou:

– Engraçado, né? Quando começamos a namorar, vc não quis usar moletom velho na fazenda, para não perder a magia do dia a dia. Agora está aqui, toda DESGRENHADA, sem nenhuma cerimônia e tudo bem. Deve ser amor, né?

Desgrenhada. DES-GRE-NHA-DA.

Ok, eu já deveria estar acostumada, o histórico de elogios dele não é lá muito favorável, mas olha… nem sei o que dizer.

Após uma noite difícil, nada como começar o dia com uma declaração de amor.  Só que ao contrário.

Se eu matar, alguém me defende?

Fuén, fuén, fuén.

#lógicamarculina

#tiropelaculatra

#donjuanfail

Update: Maridón leu o post e protestou: “A palavra foi ESCANGALHADA, não desgrenhada”.  Ah, tá. Alguém telefona para ele e dá um toque, por favor? Tipo, “não mexe, que está piorando”? Obrigada.