Ela foi a primeira da ninhada que peguei da caixa de papelão. Fraquinha, muito menor do que os irmãos, não conseguia nem ficar em pé.
Eram cento e cinquenta gramas de ossos e pele. Não tinha massa corpórea, não tinha forças, não sabia comer.
Precisei aprender na marra a entubar uma micro-gata, injetar leitinho, via sonda, de três em três horas por dias a fio. E como ela não conseguia manter a temperatura do corpo, passou a morar dentro da minha blusa, para ficar aquecida.
Ela foi o bebê mamadeira mais difícil que já tive em mãos, um verdadeiro milagrinho. Passou muitos dias sem enxergar, desnorteada, com o olfato comprometido. Mas nós duas lutamos juntas, para que ela pudesse ter uma chance.
Quando o perigo finalmente passou, eu a ensinei a ser independente, a comer, beber água, usar a caixinha de areia e brincar.
Agora, com quase dois meses, ela já está linda, forte, saudável. Aprendeu a ser gata, não precisa mais de mim.
O problema é que eu ainda preciso dela. E nenhum dos infinitos argumentos, apesar de muito coerentes e racionais, convence meu coração a mandá-la para longe.
Penso, repenso, trepenso, mas razão e emoção não conseguem se conciliar de jeito nenhum.
Então, sigo aqui, entre dias de Smeágol e dias de Gollum. Respiro fundo, fecho os olhos, faço um cafuné nos pelinhos arrepiados dela, choro, choro, choro e… adio a decisão, mais uma vez.
#myprecious
#milagrinho