Beijinho no ombro

Se eu contasse, ninguém acreditaria, então filmei para não parecer aquelas mães malucas, que ficam contando vantagens.

Aparentemente, estou criando o Pink e o Cérebro em casa. Só prefiro não revelar quem é quem e economizar com a terapia no futuro.

Minha filha chora, é verdade. Mas começou a mandar beijinhos, na semana em que fez quatro meses, para compensar.

#ohana

#beijinhonoombro

O bonde das mamadas

Já falei aqui sobre o glamour da amamentação e todas aquelas pegadinhas do malandro, que ninguém conta durante a gravidez.

A questão é que o tempo passa e cada vez mais me convenço de que amamentar é uma arte.

Aqui, por exemplo, tem sido uma lambança.

No dia a dia, quando a Cecília começa a dar sinais de fome – leia-se gritar como se não houvesse amanhã – e eu estou ocupada ou cuidando da Pi, costumo tentar acalmá-la cantando um funk, que compus especialmente para a ocasião.

A quiança está lá, berrando de fome e eu fico pulando com ela no colo, enquanto canto, rebolo e desço até o chão. Acho que ela fica tão chocada, que para de chorar.  Não é lá muito elegante, admito, mas funciona (se alguém tinha alguma dúvida, estou aqui para confirmar: sim, ser mãe é perder a dignidade, pero sin perder la diversión).

Contudo, talentos musicais a parte, a verdade é que, pelo menos na minha casa, não basta ter disponibilidade + dois peitos + leite + uma quiança, para conseguir amamentar.

Vira e mexe estou lá, prontinha, com o peito engatilhado e a Lily, ao invés de fazer sua parte, chora desconsolada por uns quinze minutos, antes de sequer encostar em mim.  De repente, para tudo e começa a mamar como se nada tivesse acontecido, com aquele ar blasé que lhe é peculiar.

E aí está o motivo oculto desse post sem o menor pudor (não, não era conquistar o sonho do CD próprio e gravar meu single su-ces-so, maaaaaassss, caso alguém tenha interesse, favor deixar seu recado após o bipe): estou cansada, essa luta antes das mamadas é difícil e desgasta TANTO, que vcs nem imaginam.

Não consigo entender o que sucede. Ela quer leite. Eu tenho leite. Ela não quer mamadeira. Eu tenho peitos. Ela quer comida. Eu tenho diversão, ballet funk.

O que falta??

Se alguém souber me explicar o que é isso, eu ficaria muitissíssimo grata. Se descobrir como resolver o problema, ainda ganha um abraço apertado e um beijo na boca no capricho. Ou melhor, uma caixa de chocolates, para o maridón não ficar bravo.

O pediatra não sabe. Eu não sei. Acho que nem a Lily sabe por que chora.

Não é falta de leite (eu costumo doar CINCO LITROS POR SEMANA ao banco do hospital), sou limpinha, tomo banho todos os dias (muitas vezes mais de um), meu bico é normal (e ainda tenho o de silicone), já tentei trocar os lados, caminhar e balançar. Nada, nada, NADA adiantou.

Então, está lançado o desafio.

Alguém poderia ajudar uma pobre mãe exausta, que amamenta de duas em duas horas, a resolver esse mistério, por favor?

Em troca, prometo mandar um vídeo exclusivo do funk, junto com os bombons. O bullying eterno vai valer a pena, tenho fé.

Quanto vale o show?

Feitas uma para a outra :)

Uma semana se passou e a Salomé já está completamente adaptada à nossa casa.

Ela devia conviver com crianças antes de cair nas mãos da colecionadora e parar no CCZ, porque vive grudada nas meninas, sempre quer ficar onde as duas estão.

É por isso que adotar um bichinho adulto é tão bacana. A personalidade deles já está definida, eles nos amam tanto quanto qualquer filhote (às vezes até mais), além de serem muito gratos, porque sabem o que é passar fome e sofrer nas ruas.

Quando eu for RYCAH e puder salvar todos os bichos do mundo, os velhinhos e doentes serão os primeiros da minha lista, podem anotar.

Fico com o coração pequeno só de pensar em quantas Salomés estão esquecidas em abrigos por aí, esperando uma chance que nunca chega.

Por sorte (mais minha do que dela), eu me apaixonei assim que a vi. Demorou, mas os dias de gaiola acabaram para a Salomé. Em troca, ela oferece amor incondicional diário à nossa família. E isso não tem preço.

Maktub. Já estava escrito.

#salomé-mé-mé
#nãocompreadote
#correntedobem

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Prazer, Salomé.

Aí a pessoa recebe outro pedido de ajuda para um filhotinho preto e paraplégico, sai correndo para resgatá-lo no CCZ e descobre que foi eutanaziado, por falta de aparelho de raio-x….

Já estava indo embora com o coração partido, aos prantos, quando um miado tímido chamou minha atenção.  Era uma senhorinha linda e doce, chamada Salomé, que estava ali há anos esperando uma oportunidade, mas nunca foi escolhida por ser caolha e ter o vírus da FIV.

Abaixei, fiz carinho, chorei mais um pouco, inconformada por vê-la há tanto tempo em uma gaiola, sem a menor perspectiva de ser adotada.

E, então, a escolhi.

Salomé agora tem nome, sobrenome, casa e família. Já circulou pela sala, comeu, usou a caixinha de areia, pediu carinho, brincou com a Pi e, no momento, dorme tranquila, esparramada no sofá, como sempre deveria ter sido.

Parece que viveu a vida toda aqui.  Ou entendeu que seu final feliz finalmente chegou.

A vaga Jojo da Fundação Martinez-Ramos foi preenchida de uma forma diferente dessa vez.  Ela não cruzou meu caminho, não foi salva da rua, não estava morrendo.  Porém, precisava de mim.  E eu dela, para ocupar o vazio que a Farofa-fa deixou.

Dizem que nada acontece por acaso.  Acho mesmo que é verdade.

Seja bem-vinda, filha.

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Sobre violência obstétrica e o que escolhi para ficar do meu parto

Em tempos de Adelir, bateu uma vontade sincera de falar sobre o parto da Lily (também porque o filminho chegou essa semana e a saudade me pegou de jeito, admito.  Certeza que vou acabar virando aquelas grávidas profissionais.  Cer-te-za.).

Depois fiquei pensando que não tenho nada de muito útil a acrescentar, além de tudo o que já foi tão falado e discutido por aí.  Sim, sofri violência obstétrica de verdade, em diversos momentos daquele dia.  Mas, apesar dos pesares, não foi isso que marcou meu parto.

Ao invés de ficar remoendo a auxiliar que me cortou toda com gilete; o obstetra que me enganou; a enfermeira que pegou meu nervo junto com a veia e deixou meu dedo dormente até hoje; os braços amarrados; o tempo infinito longe da minha filhota; ou o anestesista sem noção, que me deu um pito à la professor da quinta série, minutos antes do nascimento, por causa do celular – que eu sequer estava usando -, preferi guardar na memória tudo de lindo e especial que vivi naquele dia:

– a reação mais sincera impossível do maridón, ao ver minha bolsa estourando às três horas da manhã, sendo que tínhamos deitado a uma: “Aaaaahhhhh, nãooooooo….. Agora?? Jura??” (filha, se vc estiver lendo, essa parte é mentira, a reação dele, para todos os efeitos, foi: “Ieiiiiii, que alegria! Que timing Ó-TE-MO, vamos celebrar!”);

– meu primo rindo de mim e tirando fotos, porque eu quis pintar as unhas antes de ir à maternidade (momento menininha grau mil, eu sei.  Prioridades, minha gente, prioridades);

– o lanchinho em família às cinco da matina, assistindo Friends com a Pi no colo, porque ela obviamente acordou bem na hora em que estávamos saindo (e também porque a Fiona aqui sabia que iriam miguelar comida assim que eu pisasse no hospital);

– o assistente fofíssimo do meu médico, que tinha adotado dois gatinhos na ONG e passou o parto todo falando sobre gatos comigo;

– o maridón, sempre ao meu lado, segurando minha mão, fazendo cafuné e falando coisas meigas (das quais não lembro uma única palavra, mas o que vale é a intenção, né?);

– o fato da Cecília ter nascido no momento dela, calma, serena, tranquila e sem chorar (o que me deixou bastante desesperada na hora, confesso.  Só agora consegui perceber a beleza disso);

– a alegria imensa que senti ao ver o rostinho dela, enxergar ali um pedacinho de mim e me apaixonar perdidamente de novo e de novo;

– a carinha da Pi ao conhecer a irmã, em um misto de ciúme, ansiedade, curiosidade e encantamento; e,

– a plenitude que me invadiu ao ver minhas duas filhotas em meu colo, juntas pela primeira vez.

Foram tantas coisas mágicas, especiais, inesquecíveis, que o resto ficou pequeno, passou.

Sei que a violência obstétrica é assunto sério, uma realidade gravíssima em nosso país, uma vergonha.  Também sei que existem vários graus de desrespeito e que cada pessoa lida com o abuso de uma forma diferente.

Por isso, EU escolhi não deixar que essas coisas manchassem um dos dias mais lindos da minha vida.  Não foi perfeito, não foi como eu planejei, porém preferi ser feliz, focar em tudo de incrível que aconteceu, rir da minha própria desgraça.

Afinal de contas, não é sempre que se recebe uma depilação feita pelo Edward Mãos de Tesoura e se aparece na sala de parto sangrando, com uma brazilian wax pior do que aquele cabelo bicolor pavoroso da Ana Maria Braga.  Acreditem, seria BEM cômico, se não fosse triste.

A vida é assim, às vezes se ganha, às vezes se perde.  Eu perdi meu parto normal, mas ganhei uma filha linda e uma história cheia de reviravoltas para contar. Quem tiver curiosidade, me convida para um café, que eu conto! 😉

E segue o jogo.

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Bolsa estourou em plena madrugada, depois de trabalhar, arrumar o quarto da Lily e fazer pilates? Deixa eu pintar minhas unhas, então!Imagem #partiumaternidade Montagem parto Lily #amormaiordomundo

Do apego às monoteníces

O blog anda monotemático essa semana, eu sei.

Em minha defesa, a viagem pela Europa foi adiada por tempo indeterminado, minha última gafe não pode ser publicada, todas as fofocas que tenho para contar ainda são segredo, fiz um divórcio e um contrato essa semana, mas acho que ninguém se interessaria por eles.  Ou seja, não acontece muita coisa por aqui.

Os dias são todos da Marmota, com a Lily chorando/mamando/engordando como se não houvesse amanhã; a Pi aprendendo um mundo de coisas novas, vivendo praticamente como o Mogli – pelada e descalça, no meio da bicharada -; e eu descabelada, tentando dar conta de tudo, com um cansaço nível dormi-sentada-na-cadeira-do-cabelereiro (dignidade, cadê vc?).

Mas ser mãe é um troço tão maluco, que fico com o coração apertado só de lembrar que faltam menos de dois meses para minha licença acabar.  Menos de dois meses para eu voltar à rotina e deixar minhas filhotas com outras pessoas durante o dia.  Menos de dois meses para eu ser um pouco mais Paula, pessoa física, adulta, advogada, louca dos bichos (ok, isso eu nunca deixei de ser, esquece).

E aí eu começo a chorar.  Maduro, moderno, evoluído.  Só que não.

Sei que vou superar a crise e conciliar tudo.  Já fiz isso uma vez, vai dar certo.  Sei que minhas filhas ficarão muito bem, obrigada e que essa independência é importante para mim.

Difícil está apenas explicar para o meu coração que trocar tardes recheadas de cenas como essa por processos chatérrimos será bacana.

Preciso de argumentos mais convincentes ASAP.  Ou de abraços. Ou de chocolates. Ou de doações anônimas para o fundo Paula-passe-os-dias-com-seus-filhos-e-seja-feliz. Ou de tudo ao mesmo tempo agora.

Alguém?

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