Quando a gente perde um filho, fica pensando que ganhou uma trégua do universo, que nada de ruim vai acontecer na sua vida durante um tempo, tipo uma saída livre da prisão.
Só que, infelizmente, as coisas não funcionam assim.
Menos de um ano após perder a Jojo para um linfoma horrível, estou sendo obrigada a reviver todo o drama com a Farofa-fa. E, dessa vez, o câncer é avassalador. Cresceu em menos de um mês e derrubou a minha filhota de uma vez. De uma semana para cá, ela já não consegue mais ficar em pé, comer, nem respirar direito, sem ajuda da câmara de oxigênio.
Farofa está internada desde sexta-feira e o prognóstico é péssimo, mas não consigo abandoná-la, nem deixa-la descansar. Pelo menos não ainda.
Não consigo parar de lutar pela minha filhota. Minha cabeça sabe o que deve fazer, porém meu coração não consegue entender que está perdendo a batalha mais uma vez. É muito injusto. Especialmente depois de encontrar dois novos tiros de chumbinho alojados em seu tórax, no exame de hoje. Quanto será que ela sofreu até chegar aqui?
Parece um contrassenso salvá-la da eutanásia e fazer o mesmo, oito meses depois. Parece que não esgotei todas as possibilidades. Parece que ainda não fiz pela Farofa tudo que ela precisa.
Farofa merece mais dias de sonecas no sofá, de solzinho na varanda e sachês antes de dormir. Farofa merece ser tratada com respeito, com atenção, com todo o cuidado que um bichinho demanda. Farofa merece ser feliz por mais alguns meses.
Por isso não posso jogar a toalha. Não ainda. Não sem tentar tudo.
O tempo passa, os problemas mudam, a vida segue. E eu mais uma vez estou aqui, com um buraco no peito, o coração partido, esperando um milagre acontecer.