Hábito, hábito, hábito e hábito

Já falei aqui sobre as dificuldades de criar filhas saudáveis e vegetarianas em um mundo onde se come cada vez pior.

Posso até ser taxada de hippie-natureba-radical, mas essa semana tive três exemplos de que estou sim no caminho certo.

Estava tomando uma limonada suíça, quando a Pi pediu enlouquecidamente por um gole.  Eu, inocente, recusei, porque não tenho o costume de adoçar nenhuma bebida e presumi que ela acharia azedo.  Mas ela é brasileira, não desiste nunca e, tanto insistiu, que acabei dando um golinho, já esperando a careta, seguida da reclamação.  Para minha surpresa, a Pi adorou o suco e tomou o copo INTEIRO, de uma vez.  Ela não conhecia aquele sabor, não sabe o que é açúcar e, portanto, experimentou a limonada desprovida de qualquer preconceito, como sempre deveríamos fazer.  Minha limonada geladinha se foi, porém a lição ficou aprendida: cada pessoa tem seu próprio paladar.

Dois dias depois, saímos do pediatra das meninas e paramos para tomar café da manhã em uma padaria (experimentem sair de casa com duas filhas de banho tomado, dois carrinhos, duas cadeirinhas, duas malas, duas pastas de exames, etc, etc, etc, além das suas coisas, para ver se dá tempo de comer calmamente seu desjejum, no horário indicado.  Se conseguirem, por favor, mintam para eu não me sentir tão bagunçada).

Por qualquer motivo de importância mundial, a Pi começou a chorar, fazendo manha e a dona da padaria veio até a nossa mesa, trazendo um ratinho de chocolate para ela.

Sem desmerecer a gentileza sem tamanho da moça, que foi super delicada, não se oferece chocolate para um bebê de um ano, sem perguntar antes para os pais se pode.  No nosso caso não podia, porém achei que seria grosseiro tirar o doce das mãozinhas da menina na frente da fulana.  Foram uns cinco minutos de papo, enquanto a Pi brincava toda feliz com o “brinquedo” novo.  Apenas quando a moça já estava se despedindo, ela fez menção de colocar o chocolate na boca.  Bem em tempo de resgatarmos o ratinho derretido, já desmontado e moribundo. A Pi ainda deu uma lambida na mão melecada, mas não achou graça e esqueceu.  Chocolate, assim como a limonada suíça, não tem referencial nenhum para ela.  Não tem peso, não tem simbologia, é uma comida qualquer, da qual se gosta ou não.  Por sorte ela não gostou (por enquanto, eu sei, eu sei…)

Por fim, como todos perceberam, tenho uma filha gordinha, esfomeada, que está sempre disposta a comer, seja lá o que for.  A novidade é que ela agora escolhe o que mais gosta no prato e fica pedindo em todas as garfadas.  Foi assim com o purê de batatas, com a mandioquinha e com o grão de bico, por exemplo.  Tudo bem que esses pratos são quase unanimidades nacionais e não servem como parâmetro.  Contudo, hoje estava dando almoço para a Pi e ela começou a chorar copiosamente, porque a abobrinha recheada com carne de soja acabou.  Para ela, a abobrinha não é um legume ruim, carne de soja não tem gosto de borracha, nem se compara à carne animal, que ela sequer conhece.  A Pi está acostumada a comer aquilo desde os tempos da barriga, acha normal e delicioso, simples assim.

A conclusão é que OU eu tenho muita sorte e minha filha é espetacular, extraordinária, um ET no jardim de infância, OU, mais provável, ela come bem porque foi ensinada dessa forma.

Tudo nessa vida é uma questão de hábito.  Então, por que ensinar desde cedo que gostoso é o que faz mal, se temos a possibilidade de começar do zero e fazer diferente?

Certamente não faltarão oportunidades para as minhas meninas conhecerem balas, refrigerantes, frituras e chocolates.  Elas vão provar e gostar dessas porcarias, assim como os pais delas gostam, é inevitável.  Mas hoje não.  Hoje elas vão tomar suco no lugar do refrigerante, vão comer frutas de sobremesa e vão continuar achando uma delícia ser saudável.

#mãequeroumbrócolisfeelings

#geraçãococacola

Coração vagabundo – parte 2

Já contei aqui sobre meu amor platônico por um menininho que mora em um abrigo perto de casa.

O tempo passou, a Lily nasceu e o carinho continuou aqui, adormecido.

Até que ontem fomos jantar juntos e ele me mostrou, todo tímido, seu “diário secreto”, cheio de desenhos.  Os irmãos começaram a rir, dizer que eram feios e ele se trancou no banheiro, com vergonha.

Como se eu já não estivesse apaixonada o suficiente, em seguida, no meio da brincadeira, ele abriu o diário e falou:

– Faz um desenho para eu lembrar de vc, Pi?

A Pi pegou o lápis (com a mão esquerda, diga-se de passagem ♥) e rabiscou a folha:

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Perguntei o que ela estava desenhando e ele respondeu:

– Não sei, mas está ficando bonito, né, tia?

Sei que muitas mães postam, orgulhosas, fotos dos primeiros rabiscos dos seus filhos.  Sou apenas mais uma.  Mas o primeiro desenho da Pi não poderia ter sido mais lindo e especial. E eu não poderia estar com o coração mais partido e, ao mesmo tempo, transbordando de encantamento.

“Meu coração vagabundo quer guardar o mundo em mim…” (Caetano Veloso).

Pais de segunda viagem também pagam mico, sim, sr.!

Sempre pensamos que pais de primeira viagem são paranóicos, despreparados, neuróticos, surtam por qualquer coisinha, mas depois aprendem o babado e tiram os próximos filhos de letra.

Eu já me achava A mãe jovem e descolada, por ter sobrevivido incólume aos primeiros meses da Pi, sem stress, sem grandes micos, de boa na lagoa.

Até que nossa ratinha nasceu.

Com todo o cansaço da maratona dos últimos tempos, o maridón pegou uma virose feia, ficou com quarenta graus de febre, vontade de descer do mundo e todo aquele drama típico de homens doentes, que quase morrem por uma gripe.

Pois bem.

Eis que a Lily começou a ficar quentinha na região do pescoço, com 38.8 graus de febre local.  Demos banho e nada de melhorar, toca escrever para o pediatra, contar todo o calvário do marido doente, febre apenas no pescoço, etc e tal.  Recomendação: “corre para o PS, com essa idade não se brinca!”.

E lá fomos nós, mais uma vez para o hospital (funcionários já deviam estar com saudades, tenho certeza).

A médica que nos atendeu perguntou quais eram os sintomas.  Resposta: nenhum.  “Qual a temperatura da axila?”  Normal.

– Por que vcs vieram, então?

Confesso que já comecei a me sentir ridícula nesse ponto, mas estava lá, no meio do atendimento, não tinha como fugir:

– Porque ela está com febre no pescoço.

– Febre no pescoço? Isso não existe, bebês recém nascidos sequer têm amígdala!” (oi????).

A advogada que mora em mim ainda quis argumentar, na tentativa de manter a dignidade:

– Ué, então por que o pescoço dela está tão quente?

– Porque está muito calor e ela está muito gordinha, as dobras não respiram e ficam mais quentes mesmo, é só hidratar.

Ou seja, eu levei minha filha recém nascida ao HOSPITAL, porque ela está GORDINHA. Não doente, não desidratada, só GOR-DI-NHA.

Se isso não é bullying, minha gente, eu não sei o que é.

#worstmomever

#epicfail

#fuénfuénfuén

Paula Pausini

Outro dia contei aqui que eu e o maridón nos acabamos no videokê. Quem acompanha nossas vidas nas redes sociais viu também um vídeo dos nossos amigos no maior forfé em casa sábado, cantando Total Eclipse of The Heart (http://instagram.com/p/ixaLUDMeAP/).

Isso tudo pode ter passado a impressão de que eu canto alguma coisa ou de que sou minimamente afinada, portanto já vou esclarecer: não, não sou. Eu canto mal, tipo MUITO mal. Mal mesmo. Nível cristaleiras explodindo em desenhos animados.

Não fosse suficiente todo o esforço para ultrapassar a barreira da vergonha e participar da brincadeira, eu ainda tenho um trauma de infância a superar.

O ano era 1996 (abafa o caso) e minha família resolveu fazer um mini cruzeiro de navio. Tudo muito lindo, bacana e divertido.

Eis que estávamos sentados no bar, acompanhando o pessoal que cantava no karaokê, quando o monitor anunciou: “e agora com vcs: PAULA PAUSIIIINIIIIII!!”.

Soltei uma gargalhada e falei para a minha irmã: “Afeeeee, quem é a cafona que se inscreve assim??”.

Até que o monitor veio até a nossa mesa e me entregou o microfone.

Sim, Paula Pausini era eu.

Porque, para o meu pai, não existem limites para trollar sua filha adolescente.

Eu, toda sem graça, tentei dizer que não sabia cantar, que era desafinada, que não tinha me candidatado, mas o monitor encarou como um desafio pessoal e instigou a galera do bar a gritar, em coro: “Can-ta! Can-ta! Can-ta!”, em meio a palminhas empolgadas daqueles estranhos que queriam mais era ver sangue.

Sem alternativa, deixei minha dignidade de lado e fui para o palco cantar In My Life, dos Beatles, em parceria com o tal monitor, que sequer conhecia a música e arrastou a letra inteira fora do ritmo (sério, QUEM não conhece essa música?).

Foram os três minutos mais longos da minha vida.  Ainda bem que naquela época não existiam celulares com filmadora nem youtube.

Alguns pais apoiam os filhos, torcem na arquibancada das competições, assistem às apresentações de ballet.  O meu inscreve a filha desafinada com um nome ridículo no karaokê.

É aquele tipo de trauma que nem terapia resolve.

Valeu, pai.

#fígarooooofeelings

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Tempos de engorda

Os e-mails vão se acumulando na minha caixa de entrada. Marcações e mensagens no FB não são respondidas. Torpedos e telefonemas acabam ignorados. Banho deixou de ser prioridade. Dormir não é mais item de série. Choro agora vem com eco.  Nunca pensei que fosse jogar a toalha tão cedo, mas preciso confessar: não estou dando conta.

Minha mãe sempre diz que o trabalho com o segundo filho não dobra, quintuplica e sou obrigada a concordar, pelo menos quando a diferença de idade é tão pequena, como no meu caso.

Lily mama a cada hora e meia (o que significa de hora em hora na prática), Pi não para um segundo, está enciumada, quer apenas o MEU colo, não serve o da babá. Maridón voltou ao trabalho e não consegue mais me ajudar durante a noite (mamadas de hora em hora, lembram?). Benji ficou doente.  Enfim, tudo aquilo que já estava previsto, só que elevado a enésima potencia.

Por isso, se eu esqueci seu aniversário, não agradeci pelo seu presente, deixei sua mensagem no vácuo, peço um milhão de desculpas, não foi por mal, nem por falta de carinho ou consideração.

Dias melhores virão e, com eles, minha educação de volta, eu prometo.

Enquanto isso, sigo aqui na rotina de bruxa do João e Maria, engordando as quiança como se não houvesse amanhã.

Taí o antes e depois da Lily com cinco – eu disse CINCO! – dias de intervalo, que não me deixa mentir:

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#joaozinhomostraodedofeelings
#amaré