Foram pouco mais de cem dias escondida pelos cantos, saindo só de vez em quando, vencida pela curiosidade ou pelos petiscos.
Cem dias entre um flagra e outro no sofá, um “bom dia” na cozinha ou um passeio rápido pela sala.
Cem dias tentando chegar perto dela, sempre em vão.
Porém hoje foi diferente.
Hoje a Farofa me olhou nos olhos, subiu no sofá e se deitou ao meu lado pela primeira vez.
Ainda sem contato físico, com pavor do toque, fugindo ao menor sinal de movimento. Mas ela se esforçou e ficou lá, firme, nitidamente contrariando todos os seus instintos de defesa, que a impediam de se aproximar de mim.
Hoje a Farofa escolheu confiar. Escolheu tentar, escolheu relaxar, escolheu ser feliz.
Não sei o que mudou, o que aconteceu durante o dia, o que a fez ter coragem, nem o que desencadeou o processo.
O que eu sei é que cada minuto de espera desses cento e cinco dias acabaram de valer a pena. Cento e cinco dias controlando os impulsos, sem forçar a aproximação, sem encostar, sem invadir o espaço, sem ultrapassar os limites dela.
Está aí a prova de que não existe caso perdido. Amor, paciência e respeito operam verdadeiros milagres. Basta abrir o coração e acreditar ♥
“Tudo vale a pena, se a alma não é pequena” (Fernando Pessoa).
