Zé do Caroço – parte 2

Já contei aqui do dia em que “perdi” o mendigo do bairro e o encontrei lendo, perto de casa.

Achei que tivesse sido um fato isolado.  Porém, hoje, indo para o trabalho, me deparei com uma cena parecida:

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Fiquei ali parada por vários minutos, olhando em um misto de interesse, curiosidade e pena.

Em uma era tecnológica e impessoal, na qual quase não se escreve mais a mão, vi aquele morador de rua resgatar uma poesia e um sentimento de amor ao próximo, que nem sei explicar.

O que será que ele estava escrevendo?  Para quem?  Será que ele tem família?  Parentes ou amigos longe, em outro estado, talvez?  Será que o texto fazia algum sentido ou eram apenas palavras soltas, desconexas?

O que aconteceu para ele acabar morando na rua?  Desemprego?  Álcool?  Drogas?  Desilusão?  Abandono puro e simples?

O farol abriu, fui embora relutante, pensando no que poderia fazer para mudar a vida daquela pessoa – se é que ele pretende mudar de vida – e no limiar tênue que nos impede de terminar assim.

Fui embora, pensando que esse cara é só mais um entre tantos “Zés do Caroço” espalhados pela cidade, com histórias difíceis, vivendo sem o mínimo necessário, sem dignidade, sem sequer serem notados.  Homens invisíveis, que um dia podem ter sido trabalhadores, pais de família, artistas talentosos ou seu vizinho, que se perdeu pelo caminho, pelas mais diversas razões.

Só mais um.  SÓ MAIS UM.

E assim a vida segue, nossa rotina continua.  Mas não deveria.

#diasdecalvin

#correntedobem

Para quando a saudade bater…

Essa não é a melhor imagem, estou descabelada (quem me conhece pessoalmente sabe a tragédia que isso representa) e fazendo careta, mas o motivo é nobre: bem na hora do clique semanal, Cecília deu um dos seus chutinhos e virou. Acho que está encaixando, finalmente.

Por isso, peço desculpas pela foto tosquinha, porém é desse momento que vou querer me lembrar no futuro, quando a saudade do barrigón apertar.

32 semanas, oito meses, 5.376 horas, 322.560 minutos, and counting….

Falta pouco! ♥

#vemlilyvem

#viraviraviravirou

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Feliz 14 meses, Pi!

“Sou eu que vou seguir você do primeiro rabisco até o bê-a-bá
Em todos os desenhos
coloridos vou estar
A casa, a montanha, duas nuvens no céu
E um sol a sorrir no papel

Sou eu que vou ser seu colega, seus problemas ajudar a resolver
Sofrer também nas provas bimestrais junto a você
Serei sempre seu confidente fiel, se seu pranto molhar meu papel

Sou eu que vou ser seu amigo
Vou lhe dar abrigo se você quiser
Quando surgirem seus primeiros raios de mulher
A vida se abrirá num feroz carrossel e você vai rasgar meu papel

O que está escrito em mim comigo ficará guardado se lhe dá prazer
A vida segue sempre em frente, o que se há de fazer?

Só peço a você um favor se puder
Não me esqueça num canto qualquer…”

#catorzemeses #gladyoucame

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A maldição do rodízio

Não sei nem como explicar, mas maridón se atrapalhou e escolheu a placa do carro com o mesmo final do que a minha (sério, QUEM faz isso? Onde moram? Do que se alimentam?).

Solicitamos alteração na concessionária, fizemos pedido oficial ao DETRAN, reza brava e macumba, porém nada adiantou, a placa é definitiva mesmo.

Fora as questões cotidianas, de ordem prática (tipo levar e buscar a filha na escola todas as semanas), o problema maior é que, desde então, TU-DO nas nossas vidas passou a acontecer às quintas-feiras.

E quando eu digo tudo, quero dizer tudo mesmo, não é exagero. Do horário especial no médico ao aniversário da prima. Do bicho doente ao show bacanudo, lá nos cafundós de Judas. Da reunião de emergência até a apendicite supurada e a pneumonia coletiva, com idas em turnos ao hospital. Enfim, vcs pegaram o espírito.

Chamamos esse fenômeno carinhosamente de “a maldição do rodízio”.  Ou, na visão dele, “o dia em que quase saiu divórcio”.

Para completar, maridón ainda conseguiu esquecer da famigerada restrição por duas semanas seguidas, tomou QUATRO multas (ida e volta, ida e volta) e acabou com a carteira lotada, ou seja, não basta escolher o dia errado, vc também precisa ignorá-lo, em sinal de protesto (Maestro Zezinho, duas letras para adivinhar para quem vão sobrar eventuais novos pontos…).

Pois bem.

Alguns meses se passaram, eu já estava até mais conformada e tinha aceitado que minhas quintas-feiras seriam “com emoção” nos próximos anos, pois os dois carros são novos e não serão trocados tão cedo.  Mas eis que meu exame de curva glicêmica (delícia) foi marcado para quinta-feira cedo, no encaixe-do-encaixe-do-encaixe-sem-cholo, e eu não posso ir de táxi, porque sempre passo mal, pressão cai, aquele forfé todo.  A típica coisa que dá uma alimentada na amargura da pessoa e reativa a fúria adormecida, sabem?

Tudo bem que não se compara a criancinhas morrendo de fome na África, nem ao problema da falta de água no mundo, existem questões muito piores, eu sei.

Contudo, a pergunta que não quer calar é: se a minha bolsa estourar em uma quinta-feira de chuva, às cinco e dez da tarde ou sete e cinco da manhã, será que vou poder culpar a bandida da progesterona, alegar descontrole emocional pela gravidez e escapar da Maria da Penha, ou esse post vai me denunciar?

#matsunagafeelings

Toda saudade

O tempo passou, a vida continuou, mas tem dias em que eu acordo com o coração faltando um pedaço.

Aí eu revejo suas fotos, filminhos, tento segurar o choro e seguir em frente.  Sei que faz parte, sei que tive muito mais do que poderia esperar.  Porém, a verdade é que sinto sua falta todos os dias e ainda não aprendi a lidar com esse vazio que ficou no meu travesseiro.

Saudades, milagrinho.

Eu sempre vou te amar.

“Toda saudade é a presença

da ausência de alguém

de algum lugar

de algo enfim

(…)

Toda saudade é um capuz

transparente

que veda

e ao mesmo tempo

traz a visão

do que não se pode ver

porque se deixou pra trás

mas que se guardou no coração”

Semana de progressos

Semana passada a Pi aprendeu a andar sozinha (de verdade, não apenas alguns passinhos), a cantar a música da barata (por enquanto só o “hahaha hohoho” do refrão, mas a versão em latim está sendo aguardada para qualquer instante), a colocar o telefone no ouvido, a falar mamã, papá, au-au e “ainho” (será que ela escuta a frase “bater não, carinho” muitas vezes ao dia?) e, a cereja do bolo, a subir escada.

Mas tudo bem, fazer exercícios é bacana, é saudável, é gostoso.

Não é como se a escada de casa fosse vazada e praticamente um rali dos sertões para bebês, que a obra continuasse em andamento, que estivesse uns duzentos graus em São Paulo e eu no oitavo mês de gravidez.

Oh, wait….

Animador mesmo é pensar que, se não está fácil agora, imaginem na copa em dezembro…

#fuenfuenfuen

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Coração vagabundo

Por circunstâncias que não vêm ao caso aqui, fizemos alguns passeios com um grupo de irmãos, que mora em um abrigo perto de casa.

Maridón, conhecendo a esposa que tem, fez toda uma preparação psicológica, do tipo “aguenta firme aí, não podemos adotar todos” e eu tenho repetido esse mantra religiosamente, ao longo dos últimos dias, em uma vã tentativa de autoconvencimento, afinal trato é trato.

Pois bem. O problema é que não estava nos meus planos conhecer, no meio desse caminho, um dos meninos mais doces e, ao mesmo tempo, mais animados desse mundão sem porteiras.

Ele adora bichos, está sempre feliz, sorri com os olhos, corre, pula da escada, capota no chão e já levanta falando, como se nada tivesse acontecido.  No minuto seguinte está cuidando da Pi, não deixando que ela engatinhe no piso frio, brincando de esconde-esconde e dando a mãozinha, para ajudá-la a andar.

A Pi, por sua vez, engatinha rápido na direção dele, o abraça e dá risada. Os dois brincam juntos como se ali não existissem oito anos de diferença, coisa linda de se ver.

Numa dessas brincadeiras, a Pi saiu andando sozinha e atravessou a sala de uma vez, sem nenhum apoio.  Ele, todo orgulhoso, veio correndo me contar: “tia, tia, eu que ensinei a Pi a andar! Eu que ensinei!”.

Em outra ocasião, ele me perguntou, sério, qual dos irmãos era o meu preferido, já adiantando a resposta: “é a fulana, né?”. Vontade infinita de responder “não, querido, meu escolhido sempre foi você”, mas tive que disfarçar e soltar uma frase genérica, em respeito a todo o histórico e dinâmica familiar envolvidos.

Eu sei, eu sei.

Ninguém precisa repetir, eu entendo que ainda não é o momento, que não estamos habilitados no rol de adotantes, que a Lily chegará em poucas semanas e que ele não pode (nem quer) ser separado dos irmãos.

A cabeça está muito consciente, tudo faz sentido e me foi bem explicado, tim tim por tim tim.

Contudo, está cada vez mais difícil convencer meu coração vagabundo de que não, ele não pode se apaixonar agora. Não assim. Não por esse menino.

Complicado está sendo explicar a mim mesma, que a criança que meu coração escolheu não está disponível e que, desta vez, teremos que esperar a próxima rodada do jogo da vida.

Então, eu faço a única coisa que posso, por enquanto: enxugo as lágrimas, escrevo um post e guardo todo meu amor em uma caixinha, para quem sabe um dia poder contar essa história com um final diferente.

E segue o jogo.

“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida” (Vinícius de Moraes).

Para a Cecília

Vc ainda nem nasceu e já é tão privilegiada, filha.  O que não faltam são pessoas dispostas a mimá-la.  Muitos tios, avós, primos, amigos e gente querida ao nosso redor, além da irmã mais linda do mundo e dos pais mais apaixonados por vcs duas.

Porém, hoje queria apresentar quem mora na nossa casa, para vc ir conhecendo as vozes que tem escutado nos últimos meses.  Já aviso que somos muitos.  Todos indispensáveis.

Esses somos nós, papai e mamãe.  Papai era o melhor amigo da tia Má, começamos a namorar na época da faculdade e estamos juntos até hoje, onze anos depois.  Passamos por momentos bacanas, outros nem tanto, mas no final das contas, nada como dormir e acordar ao lado de quem se ama, para ser realmente feliz.  Espero que um dia vc saiba o que é isso.

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Essa é a Pilar, sua irmã mais velha.  Crescer com uma irmã com idade tão próxima da sua é um verdadeiro presente, filha.  Vcs vão brigar muito, tenho certeza.  Ao mesmo tempo, serão também melhores amigas e dividirão tudo: a família, o quarto, o guarda-roupa, a vida, os sonhos e os planos para o futuro.

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Esses são nossos cachorros, também conhecidos como “bebês” (ok, a mamãe consegue ser bem ridícula às vezes, eu sei).  A Pre, na verdade, não é nossa, mas como vive aqui em casa, já está incorporada à família.  Se tem uma coisa que vc precisa saber sobre nós, filha, é que aqui sempre cabe mais um.  Amor nunca exclui, só se multiplica.

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Eles fazem muita, mas muita bagunça mesmo.  Sujam tudo, uivam durante a noite, não aprendem nada do que ensinamos.  Contudo, nós os amamos loucamente ainda assim.  Porque quem ama não se importa com detalhes, abraça não só as qualidades, como os defeitos também.  Amar incondicionalmente é para poucos, filha, e eu espero que vc aprenda isso quando crescer.

Além deles, temos dez gatos (sem contar a Jojo, que era a odalisca preferida do papai e virou estrelinha, enquanto vc ainda estava na barriga da mamãe).  Todos eles têm histórico de abandono e/ou maus tratos, alguns são doentes, com problemas crônicos de saúde, mas nada disso impede que sejam muito, muito amados.

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Com exceção do Panqueca, todos foram recolhidos da rua e adotados.  Muitos chegaram em casa em uma situação tão lastimável, que nem vale a pena descrever, mas todos superaram seus problemas e hoje são felizes ao seu modo.  Acompanhar a transformação deles – de bichinhos carentes, assustados, com medo, em animais lindos e tranquilos – acaba nos transformando também, filha.  É bem bonito de se ver.

Enfim, essa é nossa família.  Sei que é muito diferente das tantas que encontramos por aí e que vc provavelmente será a única criança da sua classe com tantos bichos em casa.  Entretanto, torço, do fundo do coração, para que vc um dia possa amá-los tanto quanto eu.

Se tem uma coisa que eu gostaria de ensinar a vcs é o amor ao próximo, seja ele qual for.  Não importa se é branco, negro, rico, pobre, se fala, late, mia ou muge.  Amar e fazer o bem sempre, sem olhar a quem.

Acho que é isso.

Beijos com todo o amor do mundo.

Mamãe

Setenta e cinco mil visitas! OMG!!! \o/

Não sou uma pessoa tecnológica. Não tenho instagram, meu twitter está esquecido e não dou mais conta de acompanhar o facebook.

Como já disse aqui, quando resolvi escrever um blog para contar meu dia-a-dia, pensei que seria apenas um mini-diário para as minhas filhas, acessado por meia dúzia de gatos pingados.

Ter recebido dez mil acessos em três meses já foi um choque, fiquei bastante surpresa.

Porém, nunca, NUNCA imaginei que alcançaria SETENTA E CINCO MIL, DUZENTAS E DUAS visitas em menos de cinco meses. Para ser sincera, acho que não acreditava que o blog teria tantas visitas nem ao longo da sua vida inteira!

Setenta e cinco mil acessos é acesso para dedéu. É um Maracanã lotado ou quase dois Pacaembus! É mais gente do que vou conhecer em toda a minha existência. Gente, aliás, que deve ter suas próprias histórias e bizarrices para dividir. Por que se interessariam pelas minhas?

Tá, eu sei que tiveram alguns picos de acesso, como o post da toxoplasmose – mais polêmico do que mamilos -, que muitos blogs têm esse acesso por dia e também que não são setenta e cinco mil pessoas diferentes.

Contudo, ainda assim é impressionante pensar que, por mais de setenta e cinco mil vezes, alguém parou para ler o que eu tinha a dizer.

Como boa virginiana que sou, é bem raro sentir orgulho de mim mesma. Lembro dessa sensação de satisfação pessoal em poucas ocasiões, quando passei direto no vestibular, quando consegui virar vegetariana, quando a Pi nasceu, tão linda e perfeita, e quando ajudei a salvar um bebezico prematuro no Banco de Leite. É difícil alguém que cresceu ouvindo “não fez mais do que a obrigação”, dar valor às próprias conquistas.

Mas hoje vou pedir licença para a turma do amendoim e ficar feliz comigo. Deixei até escorrer uma lagriminha, emocionada. Hoje pode.

Obrigada a todos que gastaram uns minutinhos do seu tempo para passar por aqui. Obrigada pela tolerância com minhas reclamações e com os erros de português. E, mais especialmente, obrigada por gostarem de mim e da minha família.