Gestonta

Sempre me orgulhei da minha memória.  Impecável, precisa, afiada.

Sabia tudo de cabeça, datas, nomes, pessoas, horários, programas, pagamentos, nada passava em branco.  E isso era um contraponto bacana ao marido, que é a definição de pessoa distraída.

Mas eis que comecei a perceber falhas, esquecimentos incomuns, coisas que não costumavam acontecer.  Essa semana, na terapia, peguei o celular para anotar uma indicação da psicóloga e…. esqueci o que ia anotar.  Assim, do nada.  Em questão de segundos.

Fiquei parada com cara de conteúdo, olhando a tela e espremendo os neurônios, na esperança de vir uma luz, o que não aconteceu.  Tive que pedir socorro, envergonhada, me sentindo a própria velhinha com Alzheimer.

Comecei a reparar bem e isso tem acontecido com certa frequência.  Esqueço no escritório o que preciso levar para casa, em casa o que deveria ter ido para o escritório, erro os dias da semana (bárbaro quando é rodízio!) começo frases mas, antes mesmo de acabá-las, percebo que não tenho a menor ideia do que estou falando, e por aí vai.

Aparentemente é normal, faz parte da gravidez, sabe-se lá por que.  Contudo, para uma virginiana perfeccionista como eu, isso é o fim.  Meus alarmes do celular nunca estiveram tão congestionados.  De meia em meia hora eu apito para alguma coisa. E agora não serve mais apitar apenas “alarme”, eu preciso escrever porque raios estou apitando, se não fuén, fuén, fuén… não adiantou nada!

Apito para lembrar de tomar remédios e vitaminas, para desmarcar/marcar consultas, para colocar gasolina no carro, para sacar dinheiro, para pagar os banhos dos cachorros, entre tantas outras cositas, que antes eram rotineiras para mim.

Mas o alarme que soou agora me assustou.  Peguei o celular e o assunto era: “Brigar por causa do espelho”

E é isso que eu vim aqui revelar, amigos.  Virei uma delinquente, que precisa AGENDAR BRIGAS, para não esquecer.

Pior, fiquei burra, pois hoje é domingo e não vou encontrar os manobristas do estacionamento – que insistem em entortar manualmente o espelho elétrico (infração bem grave no mundo de uma pessoa em ebulição hormonal).

Porque não basta o processo de embarangamento, inerente à gravidez.  Não bastam todos os perrengues físicos, a falta de sono, a dificuldade em encontrar boas posições para viver.  O universo ainda precisa tripudiar e tirar o resto da dignidade que ainda nos resta.

#epicfail

UPDATE: Está aqui a explicação (gestonta sim, doida não!): http://brasil.babycenter.com/a1500597/esquecimento-e-sensa%C3%A7%C3%A3o-de-estar-avoada

 

4 pensamentos sobre “Gestonta

  1. As Cecilias são poderosas, elas querem toda a atenção, não querem ter de dividir com problemas do dia a dia. Se as Cecilias são assim poderosas, imagine uma que deve ser capricorniana. rsrsrs

  2. Pingback: Gestonta – parte 2 | PAULAtinamente

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